Se por um lado, a
cidade de Blumenau tem muito a comemorar por se destacar nacionalmente na
agenda de eventos e ações educativas durante o Maio Amarelo, parece que todo o
barulho que fizemos para chamar à atenção pela necessidade de autocuidados e preservação
da vida não surtiu muito efeito na prática. É o que mostram as estatísticas de
acidentes de trânsito em relação ao mês de abril. E o pior: maio foi um mês
mais violento para o trânsito na cidade em todos os tipos de acidentes
registrados a partir dos boletins de ocorrência de atendimentos feitos só no
perímetro urbano. Até o número de mortes aumentou: em abril tivemos duas e em
maio esse número dobrou.
Em maio tivemos 103
abalroamentos a mais do que em abril e o mesmo ocorreu em relação aos choques (29
a mais); colisões (43 a mais) e precipitações (9 a mais). Também aumentaram as
ocorrências de atropelamentos, engavetamentos, capotamentos e tombamentos, com
um a mais para cada um desses acidentes, conforme mostra a tabela.
Tipo de
acidente
|
ABRIL 2014
|
MAIO 2014
|
Abalroamento
|
260
|
363
|
Choque
|
282
|
311
|
Colisão
|
108
|
151
|
Precipitação
|
142
|
151
|
Atropelamento
|
20
|
21
|
Engavetamento
|
3
|
4
|
Capotamento
|
2
|
3
|
Tombamento
|
2
|
3
|
Fonte:
GMT/Portal da Transparência – Prefeitura Municipal de Blumenau (2014)
Isso significa duas coisas
importantes: que embora as pessoas, as empresas, as instituições, a imprensa, as
organizações e a sociedade tenha se organizado, aderido e participado do Maio
Amarelo, todas as programações e ações educativas não foram suficientes para
mudar os hábitos e as práticas dos blumenauenses ao volante.
Isso mostra que apenas
ações educativas como palestras, abordagens nas ruas, entrega de adesivos e panfletos
de autocuidados não é suficiente. Só faltou colocarmos uma melancia no pescoço
para chamar ainda mais à atenção a população, mas ainda foi pouco.
Se no mês em que toda a
cidade se envolveu e ficou sabendo da proposta do Maio Amarelo os números de
acidentes quase que chegaram a dobrar, imaginem nos meses em que a vida segue
morna, sem nenhuma campanha educativa, sem nenhum barulho que tente
sensibilizar à todos e chamar à reflexão para a quantidade de tragédias diárias
no trânsito.
E aí tocamos num ponto
que volto a insistir e não é de hoje: falta uma política pública efetiva
voltada para a segurança das pessoas no trânsito (e não fazer política com o trânsito) que envolva todas as secretarias do Executivo, que
envolva as mais de 150 associações de moradores, os Conselhos Comunitários de
Segurança, as associações, fundações e outras entidades corporativas que
representem a sociedade e a iniciativa privada. Falta colocar a alma naquilo
que estamos fazendo pelo trânsito na nossa cidade e no nosso país.
Não adianta fazer
reunião para marcar outra reunião, que vai resultar em mais reunião. Não
adianta fazer grupos fechados e seletos de especialistas que vão se fechar
corporativamente e se debruçar em cima de planilhas e números. Afinal, tudo o
que temos tido ultimamente são planilhas e números que nos ajudam a contar o
números de mortos e feridos no trânsito. E já estamos cansados de contar mortos
e feridos no trânsito.
Também não adianta só
comemorarmos os efeitos de maio porque Blumenau se destacou na mídia nacional
por ações inéditas como a 1ª Corrida Pela Vida, a 1ª CÃOminhada Pela Vida no
Trânsito ou pelo 1º Culto Ecumênico em Memória e em Respeito às Vítimas de
Acidentes e Suas Famílias em 163 anos de história.
Que ótimo, que bom que
começamos a sair da inércia! Que bom que estamos acordando e saindo da letargia
e da indiferença diária em relação às tragédias do trânsito em Blumenau e
região. Mas, é pouco! Ainda é muito pouco!
Os holofotes se apagaram
com o mês de maio e o que vai contar de verdade daqui para a frente é como
iremos enfrentar essa situação no restante dos dias, dos meses, dos anos, que
têm que ser todos amarelos em atenção pela vida.
A mesma sociedade organizada
que demonstrou sua preocupação com os acidentes de trânsito e suas
consequências no mês de maio é aquela que tem que continuar se preocupando, se
organizando e se mobilizando com estratégias bem definidas, porque senão o Maio
Amarelo terá sido apenas simbólico.
Não adianta vestir uma
roupa amarela e dirigir agressivamente. Não adianta colocar fitilho amarelo no
peito e atravessar a rua sem cuidados, fora da faixa, no meio de um cruzamento
perigoso, fazer uma ultrapassagem perigosa ou abusar da velocidade para não
manchar o asfalto de vermelho.
É agora que eu quero
ver, Blumenau! Que rumos vamos dar para essa história?