Pois bem, condutores, esse tem sido um dos
assuntos mais comentados na comunidade Aprendendo a Dirigir, no Orkut, nos
comentários aqui do blog e nos e-mails que recebo com frequência com a seguinte
queixa: "não estou me entendo com o meu instrutor". Muitos alunos pensam em
pedir à direção do CFC para trocar de instrutor, mas ficam na dúvida porque
temem que o instrutor fique chateado com eles depois de ser informado que o
aluno solicitou a troca, temem ser prejudicados de alguma forma. Dentre as
principais queixas postadas e que vocês podem conferir tanto na comunidade no
orkut quanto lendo os comentários do blog estão:
1. O
instrutor só manda fazer, não explica direito o que ele quer nem como fazer o
que ele quer;
2. Quando
erro alguma coisa ou demoro para aprender o instrutor "amarra a cara" ou faz
"careta";
3.
Comentários do tipo: "você já deveria ter aprendido isso"; "estamos nas últimas
aulas e ainda não aprendeu?"; "como é que você quer fazer a prática desse
jeito?"; dentre tantos outros;
4. Há ainda
reclamações de que os instrutores passam a pisar nos pedais pelo aluno, que
acaba sendo prejudicado no dia da prova, dentre tantas outras, tais como mal
olhar para o aluno; chamar a atenção na frente dos outros; falar de maneira
áspera, rude e grosseira com o aluno. Então, o que fazer enquanto alguns
elogiam, gostam, trazem até presentes para os instrutores, e outros não se
entendem com quem está ensinando a dirigir?
Bem condutores, todo instrutor de CFC
(autoescola) passa por um curso de formação em que, dentre outras coisas, ele
aprende (ou deveria aprender) não só os fundamentos técnicos e práticos do
ensino do ato de dirigir, mas também um pouco sobre as teorias da aprendizagem,
estímulos positivos que levem à motivação e noções de como o ser humano aprende.
Sendo um
professor, isso faz lembrar a simpatia ou antipatia na relação professor x aluno
nas nossas escolas, pois sempre tem um que diz que gosta daquele professor,
outros que não gostam, e por aí vai. Assim como na escola, o ensino e a
aprendizagem costuma ser norteado pela memorização, pelo decoreba, e um exemplo
disso é o modo como os alunos estudam para a prova teórica: decorando as leis,
quando na verdade, existem técnicas de projeção em que o aluno imagina a
situação que o enunciado da prova está pedindo, se coloca no lugar do condutor
e, tornando aquela significativa para ele, incorpora os conceitos de forma
subjetiva (e se fosse eu nessa situação? o que eu faria? a que tipo de
penalidades estou sujeito?).
Outro
exemplo é quando o instrutor pede para o aluno escrever no papel a sequência de
voltinhas que tem que dar no volante para fazer a baliza, tipo, vira 1 volta
inteira prá cá, agora vira 1 volta e meia prá lá. Com isso, o aluno vai focar na
memorização, mas deixar de tornar significativo para ele o modo como tem que
olhar no retrovisor enquanto faz a manobra, que imagem tem de aparecer quando a
quina da traseira do carro dele faz um ângulo com o meio-fio e as outras dicas
interessantes.
Por exemplo: quando fizer a baliza, a hora que os dois faróis do
carro de trás (ou as duas balizas ou outro tipo de marcação) aparecem por
inteiro no seu retrovisor (o do motorista) é hora de desvirar o volante e
acertar o carro na vaga, ou na hora que o emblema do carro de trás (que fica no
meio entre um farol e outro do carro de trás) aparecer, desvire e ajeite o carro
na vaga.
O modo como
se ensina e se aprende na autoescola não difere muito do modo como se ensina e
se aprende na escola, e isso envolve alguns conceitos universais, tais como a
afetividade no relacionamento professor x aluno, o compromisso de cada um, a
vontade e o gosto por ensinar e por aprender, o envolvimento e a
intencionalidade. Afinal, se não houver envolvimento do aluno e intencionalidade
para aprender, tudo fica mais difícil, e é neste ponto que os instrutores,
enquanto professores, devem fazer a auto-avaliação e se questionar: porquê o meu
aluno não aprende? Estou explicando de um modo que ele entenda? Sim, porque
todos aprendem e todos aprendem a dirigir, só que em ritmos diferentes, com
estratégias diferentes. Ninguém é igual, ninguém aprende do mesmo jeito, então
não há que se padronizar um jeito só de ensinar e de aprender.
Então, a
trégua entre instrutores e alunos é possível se cada um fizer a sua parte. Sem
essa bandeira branca tanto o ato de ensinar quanto o ato de aprender são
prejudicados. Então, vamos a alguns conceitos básicos, universais, de ensino e
aprendizagem que se aplicam a aprendizagem do ato de dirigir para os instrutores
e para os alunos.
A APRENDIZAGEM DO
ATO DE DIRIGIR PARA OS INSTRUTORES
1. A
maioria dos seus alunos nunca sentou no banco do motorista na vida; alguns,
inclusive, tem medo de sentar no banco do motorista com o carro desligado com
medo que ele saia andando sozinho. Considere e respeite isso no seu
aluno;
2. Para o
aluno, o instrutor é um "Deus", o melhor motorista do mundo, alguém que ele
admira, respeita e se espelha. Se tiver problemas de relacionamento, de
afetividade, de didática, isso causará uma decepção enorme no seu aluno e aquela
pessoa que ele tanto admirava pode se tornar, daí para a frente, o seu pior
pesadelo;
3. Uma das
maiores riquezas do ser humano é a sua diferença, a sua diversidade; cada pessoa
é única, tem uma história de vida diferente; todos aprendem, só que em ritmos
diferentes, uns mais depressa, outros mais devagar, portanto, a estratégia que
você usa para ensinar um aluno, por não ser absoluta e infalível, pode não
funcionar com outro aluno;
4. Muitos
de seus alunos tem problemas com enfrentamento de situações novas, tem medo de
dirigir, e o modo como eles enfrentam os outros medos na sua vida se refletirá
no modo como enfrentarão o medo de dirigir. Ah, mas isso não é problema meu como
instrutor! Será que não? Será que o instrutor não poderia encorajar mais? Dar
mais estímulos positivos? Ajudar para desmistificar os fantasmas que rondam a
cabeça do aluno? De que jeito? Mostre ao aluno outras formas de aprender, foque
na simplicidade dos comandos e manobras se eles forem feitos com calma, com
tranquilidade, sem pressa, tornando o ato de ensinar e de aprender
significativo. Dê dicas, macetes, fale com voz calma, mansa, tranquilizando. O
emocional do aluno é que desestabiliza durante as aulas. Neutralize os pontos de
tensão com afetividade e disposição para ajudar a enfrentar as dificuldades.
5. Procure
se especializar mesmo que você não tenha formação na área de educação: pesquise
sobre como o aluno aprende, sobre a importância dos estímulos positivos, da
afetividade na relação professor e aluno, sobre as novas técnicas de ensinar e
de aprender; ensine curiosidades do trânsito, das placas, do que fazer no
trânsito sempre de modo mais seguro e defensivo. Torne-se um amigo, um parceiro,
um exemplo de condutor calmo e sereno ao volante;
6. Não faça
piadas com seus alunos e, principalmente, não participe das comunidades em redes
sociais em que muitos instrutores debocham e ridizularizam quem está começando a
aprender. O instrutor, como professor, como aquele que é preparado, que foi
formado para ensinar a aprender a dirigir, não precisa se expor a esse tipo de
coisa: é inadmissível que deboche, que ridicularize, que diminua, que ofenda e
desrespeite seus alunos dessa forma, ainda mais com foto e assinatura em redes
sociais. Não é isso que se espera de um professor/instrutor.
A APRENDIZAGEM DO ATO DE DIRIGIR PARA
OS ALUNOS
1. Não
deixe que os problemas com o seu instrutor se agravem e cheguem ao limite para
tentar resolver
2. Converse
com o seu instrutor, peça dicas, macetes, explique a ele as suas dificuldades
para aprender, o que está atrapalhando a sua aprendizagem, fale sobre os seus
medos e como os enfrenta, se não os enfrenta, se foge deles. Lembre-se que o
modo como enfrentamos nossos medos na vida se refletirão no modo como
enfrentaremos nossos problemas para aprender a dirigir e, mais tarde, o modo
como vamos dirigir;
3. Se
estiver tendo problemas, chame o instrutor para conversar de um modo calmo,
tranquilo, sem alterar a voz, sem acusações tipo "você não vai com a minha
cara", "você ensina os outros diferentes" e por aí afora. Converse de modo
franco e aberto com o seu instrutor;
4. Se
chegarem a conclusão que não o relacionamento entre vocês, instrutor e aluno,
não dá, entrem em acordo pacífico e sugiram, de comum acordo, a troca de
instrutor;
5. Na
maioria das vezes e no começo do problema os mal entendidos são resolvidos numa
boa, um passa a olhar o outro de modo diferente e o relacionamento nas aulas se
torna melhor ainda.
Tudo no ato de dirigir, na aprendizagem e no
ensino, tem que se tornar significativo e defensivo. O instrutor não ensina
mecanicamente a dar seta porque o examinador vai reprovar no dia da prova
prática, mas porque dar seta, sinalizar, é a única forma que o motorista tem de
se comunicar com os demais usuários do trânsito.
O aluno não
dá seta ou realiza qualquer outra ação no comando do veículo porque o instrutor
quer ou porque ele ensinou de determinado jeito, mas porque o trânsito vai
exigir controle, domínio, calma, serenidade, reações e decisões rápidas,
defensivas e seguras. É isso que o aluno tem que aprender: como agir em todas as
situações no trânsito. Claro que isso vem com o tempo, com o hábito de dirigir,
com o modo como dirigimos, mas o básico quem ensina é o instrutor.
O blog
espera ter contribuído de alguma forma para melhorar o relacionamento e a
afetividade entre instrutores e alunos. Bandeira branca, pessoal. Paz no
trânsito e comportamentos seguros e defensivos começam com ensino e aprendizagem
significativos e defensivos no CFC/autoescola.
Boas aulas
a todos!